Como disse Aristóteles, o homem é um animal político. E eu acrescento: quem diz que não é político é um animal! Mas é preciso perdoar. Não somos criados para a vida política, mesmo ela sendo tão importante em nossas vidas. Particularmente, no Brasil, temos aversão ao conceito. Os exemplos de vida política que temos são estereotipados e desanimadores. Preferimos mesmo estar à parte, pois tudo é visto como sujeira e roubo. Não queremos isto para nós.
Mas desde a infância, quando negociamos com nossos pais a compra de um brinquedo na vitrine, já estamos engatinhando na vida política. E depois crescemos e continuamos querendo e precisando negociar, seja algo importante ou apenas um capricho. Mas as coisas importantes interseccionam um conjunto que pertence à coletividade. E então percebemos que não estamos sozinhos neste mundo, e que para conseguir algo é preciso negociar e lutar por aquilo. Nesta luta, vemos então que uma grande arma é o grupo. A vontade de um grupo é mais forte que a vontade de um indivíduo, podendo mesmo chegar à tirania. E, ora vejam, estamos fazendo política.
Antes de por a mão em armas, sejam elas físicas ou semânticas, precisamos de um mínimo de formação. A mínima necessária para o diálogo construtivo e a reflexão honesta (inclusive consigo mesmo). Essa tarefa já é delegada à escola. Fazemos isto toda vez que um professor propõe um debate, uma apresentação ou uma pesquisa em grupo.
Fazer política não é simplesmente levantar uma bandeira e sair atrás de um grupo exigindo isso e aquilo. É se propor a discutir e encontrar soluções para problemas que dizem respeito a uma coletividade. A escola é um dos primeiros momentos em que o ser humano se encontra com problemas de grupo, ou seja, problemas políticos. Tentar criar uma escola onde não se discute política é o mesmo que excluir a escola da vida das pessoas.
Quanto à questão partidária, acredito ser impossível retirar por completo o viés de um discurso social. Temos uma natural tendência a defender nossas ideias e interesses, por mais que estejamos dispostos à reflexão. O mesmo se dá em jornalismo: nunca será possível afirmar que uma reportagem foi completamente imparcial: ela sempre toma uma perspectiva resultante da interpretação de seu autor. Interpretação esta que surge da disponibilidade e qualidade dos fatos disponíveis no momento. De forma semelhante, querer que um professor fale do holocausto sem expressar suas impressões sobre o fato, não tem como.
Por outro lado é absurdo pensar que todo um corpo docente pode estar doutrinando uma escola. É natural da política a oposição de ideias e, dentro de um conjunto de professores, vamos encontrar as mais diversas. Não há chance de que todos pertençam ao mesmo partido, embora eu ache que em sua grande maioria sofram da mesma forma e dos mesmos males. O que podemos fazer é participar da elaboração do plano de ensino, das reuniões de pais, das reuniões da APM, dos conselhos deliberativos, incentivar o grêmio estudantil. O que podemos fazer é participar. O que podemos fazer é política!

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